domingo, 10 de novembro de 2013

Dois pesos, duas medidas. Sempre!

Atualização do texto em 05/02/14: acho que minha revolta nesse texto ficou bem ilustrada com este vídeo, em que a "jornalista" do SBT trata dois casos de transgressão da lei de duas formas diferentes. Um dos transgressores é o Justin Bieber, no caso que me deixou indignado e me levou a escrever esse texto, o outro é um negro, pobre e maltrapilho (eufemismo de minha parte, haja visto que nem roupa ele tinha quando foi preso ao poste para "pagar sua pena"). Até quando negaremos a existência de um preconceito por etnias ferrenho e escancarado, nas terras tupiniquins?




Justin Bieber é flagrado grafitando o muro do Hotel Nacional no Rio de Janeiro. Grafite sem autorização é contra a lei no Brasil, mas, na foto, ele aparece escoltado por uma viatura da guarda civil carioca. Esse é apenas um exemplo de como o mundo no qual vivemos é desigual. Do ponto de vista econômico, essa desigualdade já é óbvia, basta desligar o "foda-se" que há em cada um de nós e, instantaneamente, você começará a perceber que, enquanto vai e volta do trabalho ou da faculdade, tem muita gente dormindo no chão e sem ter o que comer. Estou falando que o (não) ocorrido ao pop-star canadense é um exemplo de desigualdade do ponto de vista da justiça, não apenas da instituição que nos rege, mas também do conceito que inexiste da forma ideal, ou seja, cega e igual a todos. 

Saramago dizia que para entender uma situação basta que façamos algumas perguntas básicas, portanto me arriscarei nesse tipo de raciocínio: como seria a reação dos policiais dessa viatura caso o grafiteiro sem autorização fosse negro, maltrapilho e da Rocinha? 

Não que a culpa dessa desigualdade restrinja-se apenas aos policiais, todos somos culpados. A mídia tratou do assunto colocando panos quentes na culpa do marginal (opa, a palavra marginal soa forte quando o alvo é branco, rico, estrangeiro, loiro e dos olhos claros, não é?). Somos todos coniventes com esse tipo de aberração, portanto culpados. Poucas pessoas ficaram indignadas com o ocorrido. A maioria, guiada pelas ideias da grande mídia aceitou a infração como algo normal, perdoável. Talvez até seja perdoável, mas a minha revolta deriva do fato de que isso teria outro peso e outra medida se o flagrante fosse em um negro e pobre. 

A sociedade brasileira como um todo trata pessoas diferentemente por causa da cor da pele, cabelo, olhos e também por estarem em diferentes classes sociais. Lembram do filho do Eike Batista que atropelou e matou um ciclista? O que vocês acham que aconteceu a ele?  

Nosso país é desigual, discriminatório e não apenas por conta da classe social, o que já seria um absurdo. Ele é desigual por preconceitos enraizados por todos nós e em todos nós. Vivemos um racismo velado, em que as pessoas não assumem, mas aceitam as ideias de que rico infrigindo a lei é perdoável, já o pobre tem de ir para cadeia. 

Pouco tempo atrás, no caso do motoqueiro que tentou assaltar um rapaz e tomou dois tiros de um policial à paisana, muita gente postou "bandido bom é bandido morto". Pois bem, 'bandido' é uma pessoa que transgride a lei. Caso a afirmativa dos reacionários fosse levada à risca, então Justin Bieber deveria tomar uns tiros também, pois transgrediu a lei, portanto é 'bandido'. É claro que a afirmação "bandido bom é bandido morto" é um absurdo causado pela debilidade mental de pessoas que gostam de resumir tudo a uma afirmação. Não sei o que seria justo no caso do Justin Bieber, mas ter nosso poder executivo dando cobertura para ele burlar nossas leis é vexaminoso para qualquer brasileiro. Ou, pelo menos, deveria ser.

Quando seremos uma sociedade mais justa? Talvez quando tivermos a proporção de etnias do Brasil sendo refletida em todas as áreas profissionais e, portanto, em todas as classes econômicas. Até lá, o preconceito velado existirá em todas as esquinas.

P.S.: Aos que não entenderam a linha de raciocínio, não tenho nada contra o cantor em questão. O ocorrido foi apenas um exemplo de um problema muito maior que temos em nosso país e que ele fez uso.

P.S.2: O vídeo abaixo traduz, em um minuto e cinquenta segundos, o tipo de pensamento reacionário da apresentadora do SBT e de outros milhões de, como se diz aqui em São Paulo, coxinhas da classe média. 







4 comentários:

  1. Eu não sabia dessa do Bieber; descobri quando ele postou uma foto de um pinguim grafitado, com a legenda "todo mundo ama pinguins". Pois é, Lucas, a ausência de revolta, não só quanto ao Bieber, mas a toda a desigualdade que existe bem nos nossos narizes só é prova de que o preconceito está tão enraizado na consciência coletiva que a gente nem o percebe, só o vive. Nosso histórico escravista só piora as coisas, não só do ponto de vista racial, mas das relações sociais como um todo... Apesar de eu, como você, desejar que isso mude, fico pensando se algum dia saberemos o que é igualdade. Será que é só mais uma utopia?

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  2. A foto do pinguim é de um grafite que ele fez no Paraguai.

    Concordo que nosso recente passado de escravidão ajuda a ainda termos preconceitos enraizados na sociedade, afinal, foram mais de 300 anos de trabalho escravo contra apenas 130 da ausência (formal) dele.

    Não sei se a igualdade é utopia, mas mesmo que for, a existência da utopia serve para que continuemos a caminhar.

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  3. Também fiquei revoltada com ess negócio do Bieber mas fiquei feliz quando ele foi detido na Austrália por insultar um policial hahaha Acho que o caso do bandido da moto, acredito que muita gente sentiu uma certa justiça (não concordando com a frase) mas ninguém nunca faz nada, perto da minha faculdade mesmo, muita gente já foi assaltada e nunca fizeram nada, nem aumentaram a ronda policial, apesar de ter tido o sentimento na época de justiça sendo feita, sei que aqui no nosso país o que mais falta é justiça =/

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    1. Entendo esse sentimento de justiça, mas não concordo com ele. Pois o código de Hamurábi não faz parte de nossa constituição, nem deveria.

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