sábado, 14 de setembro de 2013

Conversa fraternal


_E como está o trabalho?
_Vamos falar de coisa boa?
_Pelo visto, não está gostando.
_Não é desse trabalho específico que eu não gosto.
_Então não entendo.
_Outro dia, olhei pela janela do prédio onde trabalho, cuja vista dá para uma praça, e avistei um senhor de idade caminhando até um banco, sentou, abriu um livro e começou a ler. Então pensei "quanto tempo terei de esperar para poder acordar e fazer algo que eu goste, que eu queira?"
_E os fins-de-semana?
_Não quero aliviar minha insatisfação de cinco dias, brincando de ser feliz durante sábado e domingo.
_Então o que te incomoda é a obrigação de ter de trabalhar?
_Sim, o trabalho não me estressa, mas a obrigação de ter de fazê-lo. A pressão de trabalhar para morar, comer, passear nos fins-de-semana, respirar. 
_Talvez a insatisfação seja com a maneira como o mundo capitalista funciona.
_Pois é. 

2 comentários:

  1. Puts... Pouca coisa é pior que insatisfação com a rotina. Ao passo que, ao menos na teoria, somos donos de nós mesmos, estamos presos a algo muito maior. Mas há quem goste! Conheço gente que, sem rotina, fica louca, doidinha. Será que isso é escolha dela? Na impossibilidade de fugir do sistema, o negócio é reinventar os dias, mudar o trajeto até o trabalho, mudar o trabalho, mudar de trabalho...?

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    1. Marina, todos nós vivemos a base de rotina. Mesmo nos casos em que ela não fica clara, está lá. Portanto acho que a questão não é ter ou não ter uma rotina, e sim com qual delas eu gostaria de viver.

      O texto refere-se mais a uma contradição causada pela obrigatoriedade de se fazer algo para poder viver e não sobrar tempo para isso mesmo, ou seja, viver. Ele não é conclusivo. Eu nem sei o que eu mesmo penso sobre o assunto, mas achei interessante jogar essa dúvida ao mundo.

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