sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Os que não usam escada rolante.

Todos os dias vejo pessoas, muitas pessoas. Centenas, milhares. Quantidade essa só possível pelo fato de morar na capital paulista e fazer uso, entusiástico, diga-se de passagem, do transporte público. Muitas pessoas ligadas no modo automático em seus ir-e-vir individuais. 

Aliás, talvez seja normal as pessoas estarem nesse tal modo automático quando vão ou voltam, ou seja, quando não estão em seus objetivos finais. Normal não significa que eu pense que deveria ser assim, estou apenas usando a palavra normal no sentido estatístico, ou seja, é o que mais acontece, apenas isso. 

Sinto, baseado em observações cotidianas, portanto não há nada de estatístico nessa parte, que as pessoas ficam ligadas no modo automático grande parte do dia. Viajam pensando no lugar de destino, trabalham pensando em terminar logo o que tem para ser feito, beijam seus ou suas cônjuges pensando no banho que têm de tomar, conversam com seus filhos pensando no futebol ou novela que vai começar, dormem pensando na hora que terão de acordar. 

Algumas consequências diretas dessa escolha de vida são: a irritação com a chegada da segunda-feira, a ansiedade para que a sexta-feira venha salvar-lhe a semana, insatisfação para com sua própria vida, porém sem a iniciativa de tentar mudar algo, incapacidade de um bom convívio social e demasiada importância ao dinheiro. 

A incapacidade de um bom convívio social pode ser observada nas pessoas que não dão lugar para os idosos sentarem, a inexistência de "bons-dias", "por favores", "obrigados" e "com licenças" e na vontade de colocar culpa em terceiros, sem autoavaliação crítica. 

A demasiada importância ao dinheiro serve como uma válvula de escape, uma tentativa de enganar a própria mente achando que todo esse modo de viver faz sentido por estar ganhando dinheiro suficiente para si. Alguns amigos justificam a sua (in-) felicidade tentando fazer algum tipo de comparação da sua satisfação com o dinheiro que ganha. Então ouço absurdos do tipo "o trabalho é chato mas o dinheiro é bom", "não gosto disso, mas ganho bem", "a semana está cheia, mas o que importa é dinheiro no bolso" e "estou feliz sim, pois ganho bem". 

Segundo Wim Wenders, dramaturgo alemão, "o excesso de imagens de hoje-em-dia significa basicamente que somos incapazes de prestar atenção". Então não somos mais tocados por coisas simples, como por exemplo, a viagem em si, não o lugar onde ela nos levará, o trabalho que fazemos, não a quantidade de dinheiro que ele nos proporcionará no fim do mês, os "boas-noites" à família sem pensar no banho, na novela ou no futebol que vem depois. Não prestamos mais atenção ao nosso presente. Estamos interessados em consequências, em futuro, em outra vida, e não notamos que temos uma que poderia ser melhor vivida. 

Nesse mundaréu de pessoas ligadas no modo automático, algumas, poucas ainda, mas existem, não pensam em demasia no futuro, vivem o instante num modo alerta, diferentemente da maioria, essas conseguem prestar atenção e viver o presente. Talvez seja apenas o lado otimista do meu cérebro querendo me dizer que há esperanças, mas consigo perceber essas pessoas quando, mesmo estando a escada rolante vazia, elas escolhem subir pela escada normal. 

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