sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia internacional da mulher.

Em meados do século dezenove, mulheres "já" ocupavam postos de trabalho em indústrias nos Estados Unidos, porém havia distinções entre os benefícios recebidos pelos dois sexos. Nesse período, as mulheres recebiam um terço do que os homens recebiam pelo mesmo trabalho feito. Em uma fábrica têxtil de Nova Iorque, a jornada de trabalho era de dezesseis horas por dia. Pronto, todos os ingredientes para uma revolta estão devidamente misturados. 

Eis que, no dia oito de março de mil oitocentos e cinquenta e sete, as mulheres dessa fábrica resolvem fazer uma greve para reivindicar uma redução da jornada de trabalho para "apenas" dez horas diárias. Então elas foram trancadas na fábrica e, por conta de um misterioso incêndio, todas morreram queimadas ("todas", aqui, significa um número entre cento e trinta e cento e quarenta mulheres, pois o gaucher que vos escreve encontrou diferentes números em diferentes fontes, mas todos ficavam no intervalo mencionado). Apenas como informação, a fábrica em questão não é a Triangle Shirtwaist, cujo incêndio ocorrido foi em vinte e cinco de março de mil novecentos e onze e cujas consequências estão mais ligadas às melhoras nas condições de trabalho e fortalecimento de sindicatos do que à equidade de direitos entre os sexos (fonte: sítio da ONU). Fiz essa observação por ler um texto em que o autor cometeu o equívoco de dizer que a fábrica do começo desse texto era a Triangle Shirtwaist.

Voltando ao fato do incêndio, o de oito de março de mil oitocentos e cinquenta e sete. Ele foi o símbolo da luta das mulheres pelos seus direitos, senão a equidade com os direitos masculinos, pelo menos a luta pela diminuição da diferença abismal existente entre mulheres e homens. Foi por causa desse dia que hoje comemora-se o dia internacional das mulheres. 

Agora vem a parte interessante. Hoje em dia, algumas empresas dão de presente às mulheres algumas lembrancinhas ou uma flor, passando a ideia da comemoração desse dia. Algumas mulheres esperam de seus respectivos lembrancinhas, passeios, jantares e carinho nesse dia. Algumas empresas usam esse dia como propaganda para vender mais e, o pior, vender produtos como máquina de lavar, fogão, eletrodomésticos etc (vi isso em propagandas direcionadas às mulheres nessa semana). Isso é uma banalização do dia internacional das mulheres. O dia nasceu como uma luta pela igualdade de direitos entre os sexos, cujo símbolo é a morte das mulheres da fábrica têxtil de Nova Iorque em mil oitocentos e cinquenta e sete. Não é um dia em que deva-se presenteá-las, dar carinho ou comprar um fogão. Aliás, a ideia das propagandas mencionadas é ridícula, porque trata as mulheres do ponto de vista machista, pois essas empresas estão passando a impressão, para mim pelo menos, de que oito de março é dia de vender fogões, eletrodomésticos, máquinas de lavar roupas etc. 

Carinho, deveria se ter todos os dias, tanto a mulher quanto o homem. Eletrodomésticos, caso queira comprá-los, tem-se o ano todo para isso. Jantar romântico é legal, mas não em comemoração a este dia. 

Desculpe se estou jogando água no chope de vocês, mas o oito de março não era para significar cumprimentos aleatórios, flores nem carinho como meio para o previsível fim em casais. Deveria ser um dia para reflexão do que as mulheres conquistaram e o que ainda está desigual em nossa sociedade. Um dia de reflexão sobre o que aquelas mulheres fizeram em mil oitocentos e cinquenta e sete e a consequência que tiveram. 

Não acho que seja um dia para alegrias sem razões nem tristezas por pessimismo. Apenas um dia para reflexão e, se for o caso, a retomada da luta.

P.S.: Quem é a senhora da foto? É Clara Josephine Zetkin que, na primeira conferência internacional da mulher em vinte e seis de agosto de mil novecentos e dez, lançou a ideia de se ter um dia internacional da mulher.

2 comentários:

  1. Boa Tarde Mestre Lucas!
    Em primeiro lugar, quero pedir desculpas pela ausência prolongada. A vida tem andado extremamente corrida.
    Sem segundo, devo dizer que É pela qualidade de textos como este que tomei como um compromisso pessoal repassar todo este blog, para garantir que não escape nada do que foi produzido durante o tempo que não o visitei.
    Parabéns pela reflexão. O dia passou, mas a verdade deste texto permanece!

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    1. Nossa, Marcelo, obrigado pelo elogio. Reli meu texto e lembrei o que senti quando via as propagandas no dia mencionado.

      Estou num fim de bimestre um pouco corrido, mas retomarei o Outros Diálogos.


      Abraço!!!

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