segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O que é ética?

Certa vez, em uma aula de Física com um professor que sabia muito de Filosofia, um amigo levantou a mão depois desse professor ter perguntado "alguma dúvida?". Ao ouvir o "diga" do professor ele perguntou "Professor, o que é ética?". 

Os pingos nos i's. Esse amigo estava fazendo outra matéria em que se estudava ética, moral e a diferença entre ambas. Como essa diferença é tênue e, talvez, com intersecção não vazia, então ele resolveu perguntar para outro professor. Bom, eu confesso que também não acho tão simples diferenciá-las. 

Tudo começa com "ética não depende do tempo nem do lugar, já a moral depende desses dois fatores". Bom, não sei se é possível existir alguma regra que valha atemporalmente e que não dependa do povo ou do lugar geográfico. Mas, caso existisse, ela não seria uma regra moral em cada lugar e tempo em que se aplique? Ou seja, toda regra ética seria moral? O contrário sabemos que não é verdade. 

Lendo o livro "Ética e competências", de Terezinha Azerêdo Rios, reformulei o que eu entendia por ética. A autora explica que uma norma não é ética. 

"(...) Essas são criadas no espaço da moral, que é normativa. É em seu campo que se ordena: faça isso, não faça aquilo, se estabelecem modelos e códigos para o comportamento. O que chamamos de código de ética é, na verdade, um código de moral, porque é normativo, estipula deveres, assim como indica direitos."

Portanto qualquer tentativa de exemplificação de uma conduta ética seria, na verdade, um exemplo de conduta moral. Logo, explicar o que é ética através de exemplos não daria. Fui ao Michaelis (sempre ele) e fez-se o nó. 

"1 Parte da Filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta humana. É ciência normativa que serve de base à filosofia prática. 2 Conjunto de princípios morais que se devem observar no exercício de uma profissão; deontologia."

Bom, segundo o que eu entendi do livro lido e citado, essa definição seria mais adequada à moral do que à ética. Se queremos estabelecer um conjunto de comportamento socialmente aceitável proibindo o conjunto não querido, então o que faremos não seria muito diferente do que foi feito na Mesopotâmia com o código de Hamurábi. Note que as leis poderiam ser diametralmente diferentes, mas seria um conjunto de regras estabelecendo o que pode e o que não pode. Como isso é normativo, então tratar-se-ia de um código moral, não ético.

Assim, entendo perfeitamente o que é moral, mas ainda cambaleio-me na calçada desnivelada da ética. A ideia do que seria ética flutua em minha mente, ainda como uma névoa. Não consigo deixá-la transparente e aportada firmemente em conceitos e definições. 

Logo, segue a pergunta: o que é ética?

P.S.: Um amigo, Guilherme Messias, no intuito de ajudar a compreensão do que seria ética indicou um vídeo bem interessante, recomendo.


16 comentários:

  1. Saudações Sr Lucas! Muito boa Tarde!
    Compartilharei com o senhor a MINHA compreensão de Ética!
    Vivemos neste mundo pós Iluminista de ruptura com as hegemonias religiosas. O homem contemporâneo tem a necessidade de evidenciar seu rompimento com a religiosidade e com a moralidade religiosa sem, no entanto, deitar de apresentar um comportamento minimamente moral. Ou seja, a pessoa se queixa do moralismo religioso, se coloca contra estas práticas, mas não anda nu na rua, não rouba, não mata, não se lança à promiscuidade (pelo menos não todos. rs). Esta pessoa, apesar de Moral, lê o conceito como sinônimo de "Moralidade religiosa", assim, precisa erigir um novo conceito que justifique seu próprio comportamento moral e ainda evidencie o rompimento com a moralidade. Começam a surgir as éticas! Ética profissional, Ética Médica, Ética Comercial, etc. Na necessidade de secularizar a Moral, corrompem o significado de "Ética".
    Tendo isto como plano de fundo, e aproveitando sua leitura do Michaelis, poderíamos dizer que todo o emprego de Ética com este sentido corrompido corresponderia ao segundo sentido de Ética localizado pelo senhor. Por isto mesmo seria mais adequado o emprego do termo "Moral", como bem concluiu.
    Por "Ética", propriamente dita, deveríamos nos atentar ao sentido primeiro. A Ética não é um conjunto de normas morais universais, tampouco um conjunto de normas morais mais ou menos móveis, acompanhando o avanço social. Tudo isto é, ainda, Moral. A Ética é o estudo deste fenômeno, à saber, das transformações dos valores morais no espaço e no tempo.

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    1. Errata:
      "sem, no entanto, deiXAR de apresentar …"
      "a pessoa (…) não anda nuA na rua…"
      "(pelo menos não todAS. rs)"
      "a saber…"

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    2. A ética, então, seria o estudo da (mudança do comportamento) moral?
      Assim, uma pessoa não seria ética caso negligenciasse esse estudo e não por desvio comportamental. Nesse desvio, a pessoa seria imoral, certo? Ou seja, no cotidiano, usamos em demasiado a palavra ética, quando deveríamos, na verdade, usar mais a palavra moral (?).

      Acho que fiz muitas perguntas de uma só vez...

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    3. As perguntas sempre são motivos de comemoração!
      Tomei o cuidado de assistir o vídeo só depois de ter emitido minha opinião, tanto para ter a oportunidade de verificar o que eu mesmo penso, antes de ser influenciado pelo vídeo, quanto para depois enriquerer minha posição com a colaboração do Cohen. Usando suas perguntas como eixo argumentativo, eu colocaria da seguinte maneira (agora aproveitando a argumentação do vídeo para construção do paradigma):
      1. Enquanto a Moral molda a ação do sujeito em sua sociedade, a Ética, em sentido Lato, seria esta capacidade reflexiva acerca da própria postura ou de outrem; Por mais que não se queira, enquanto você faz esta reflexão, acaba criando nova Moral, uma vez que abandona, fixa ou expande seus valores morais anteriores à mesma. Em sentido stricto, ela seria o Campo Filosófico de estudar as questões morais do ponto de vista das sociedades e dos momentos históricos. Como o filósofo não deixa de ser indivíduo humano, também nesta atividade acaba absorvendo parte da moral estudada, assim, criam para si algum valor moral.
      2. A pessoa que neglicencia o estudo seria anti-ética, mas não amoral, assim como uma pessoal amoral só o é frente a algum pressuposto moral, com o qual ela pode ter rompido após uma reflexão ética.
      3. Finalmente, sua terceira pergunta (note que suas duas últimas questões são muito mais conclusivas que inquisitórias) entra em concordância com minha visão de Moral e de Ética. As pessoas aplicam o termo "Ética" exageradamente. Já discuti com muita gente que se incomoda com minha tendência a falar de Moral, como se a aplicação deste termo evidenciasse alguma obsolescência em minha visão de mundo. Abominando a religiosidade como fundamentação moral, abominam o emprego do termo.
      Note que isto não é uma generalização. Muita gente aplica em demasia o termo "Ética" não por preconceito contra a religiosidade, mas apenas por ter absorvido esta prática de nossa sociedade. Perceba que mesmo no vídeo, depois do Cohen ter passado meia hora explicando as diferenças entre a Ética "egoica" e a Moral "superegoica" AINDA aplicam o termo "Ética" quando vão fazer alguma pergunta! É um hábito social contra o qual não me contraponho, mas faço questão de falar sempre de "Moral", justamente para fomentar o aprofundamento nesta discussão.

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    4. O cara que pergunta sobre a ética na política estava totalmente fora da discussão. Acho que ele deve ter chegado naquela hora e o microfone estava do seu lado, só pode.

      Na segunda resposta, notei que você usou a palavra "amoral" ao invés de "imoral". Mas o desvio de uma conduta moral não seria uma imoralidade? Ao passo que não seguir preceito moral algum seria uma amoralidade?

      Outra coisa: já que a ética é um questionamento do indivíduo consigo mesmo acerca de suas ações ou de seu comportamento moral, então é correto afirmar que cada um tem sua ética?

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    5. Falha minha na escolha das palavras! O termo correto é mesmo imoralidade. Não possuir qualquer preceito moral (suponto ser possível) seria a amoralidade. O senhor está correto!
      Quanto a afirmar que cada um tem sua Ética, parece-ME ainda uma confusão de significações. O ato reflexivo seria uma capacidade geral, assim, a prática ética seria uma faculdade geral do ser humano, ainda que latente em muitos, realizada em poucos, diferente em cada um quanto à seu conteúdo, geral quanto à forma. O produto desta realização seria a construção sempre móvel das morais particulares. Assim, cada um tem sua Moral! rs
      PS: O Café Filosófico da CPFL é QUASE tão interessante quanto nossos cafés no Alfa Omega! rs

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    6. Pergunta retórica? rs
      Ética, PARA MIM, é o que estamos fazendo aqui. É a reflexão sobre a atuação moral no mundo. A reflexão sobre esta capacidade de refletir sobre isto. A capacidade de discutir o que é Ética já é fazer Ética!
      Ou não! rs

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    7. Foi uma ironiazinha, mas sua resposta foi muito boa!

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  2. então, depois de muito perguntar, e depois que eu ler esses comentarios e referencias, assim como o video e outros artigos, eu tentarei dar a minha modesta e leiga opinião....

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    1. Wrey, sua opinião será bem-vinda. Acredito que vai acrescentar valor na discussão.

      Abraço.

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    2. Jovem, não seja modesto!
      Só quando manifestamos nossos pensamentos é que damos ao outro a oportunidade de aprender conosco, assim como criamos a oportunidade de aprimorar nossos próprios pensamento!

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    3. Errata: "(…) nossos próprios pensamentos!"

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    4. bem sócio-interacionista(marcelo moreira).... Mas há outros pontos de vista(ou teorias de aprendizagem ), bem como outras linhas filosoficas sobre o conhecimento, que garantem um valor (diferente de nulo), nas opinioes e pensares aquém das discussões....ou de manifestações dos nossos pensamentos em forma de discurso!!
      rsrsrsrs...
      achei um outro video sobre etica:
      http://www.youtube.com/watch?v=K9vtSxcmYDM

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    5. Te perdoo!!!
      Acerca do vídeo, sensacionais todos os comentários do professor Janine, sobretudo quando fala que da sua geração vingaram "profissionalmente" aqueles que escolheram as profissões menos promissoras! Como (pseudo)filósofo senti-me menos inútil!
      Uma única ressalva eu faria, se me for permitido. Me incomodou a abertura do vídeo, justamente por reunir aquilo que procurou-se separar, tanto em MINHA visão de Ética quanto na abordagem construída pelo Cohen no vídeo anterior. No discurso do Janine observamos a aproximação dos termos "Ética" e "Moral" e, não raro, a aplicação aleatória de cada um, como sinônimo do outro, no mesmo discurso. À sua visão de "Ética=Moral" ele contrapõe "Política", algo que me parece temerário. Ainda prefiro me prender ao "Ética X Moral". Não obstante isto, toda a reflexão construída a partir daí é brilhante.

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    6. PS: Notem que o discurso do Janine apresenta a fluidez ética proposta em nossa discussão prévia, não obstante, é realizada com alguns pressupostos morais pessoais do filósofo. Existem padrões de comportamento que ele julga válidos para a sociedade contemporânea e outros que ele julga inadequados. Corretos ou não (não estou julgando, apenas explicitando), valores morais dele!

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