sábado, 17 de maio de 2014

Ela atrasou, mas veio.

A todo momento, sou dilacerado pelas incongruências sociais causadas por um sistema que, digo-vos, nos foi imposto, e que tem como condição necessária para sua existência a desigualdade social. Para essa dilaceração começar, basta sair à rua. Se bem que nem isso é necessário, caso eu comece a pensar que tenho o conforto de um teto e que isso não é o normal para todos. Uma ronda de desânimo atinge-me quando penso que podemos estar numa grande Oceânia e, portanto, nada mudará. Neste contexto, é inevitável a questão: o que é felicidade?

Não sei. Sinceramente, eu não sei. 


Imerso nesses pensamentos estava eu a passar o dia, a entrar na escola, a pegar meu material, a subir para sala tirar dúvidas, pois a aula seguinte seria a prova. Alguém se levanta, vem até mim e faz-me uma pergunta, resolvo explicar na lousa, já conformado com o que não aconteceria, ou seja, com um desinteresse coletivo dos outros alunos. Porém, para minha surpresa, trinta segundos depois da primeira pergunta, fico rodeado por grande parte da sala querendo tirar suas dúvidas, querendo aprender.

Estanquei por uma fração de segundo. 

Em seguida percebi que se aproximavam da roda de alunos a alegria meio trôpega, o sorriso ainda tímido e a beleza, essa sem pudor, abrindo caminho por entre pessoas com seus cadernos e testas franzidas, para, em seguida, inundar com um quente sangue o coração que teima em bater, de um José que teima em marchar.

No momento em que sinto pulsarem forte os átrios e ventrículos, noto a chegada da alegria já sem tropeços e o sorriso pede desculpas pelo atraso de hoje.




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