quarta-feira, 4 de julho de 2012

Sou corintiano.

O que eu estou prestes a escrever poderia ser considerado um disparate pelos corintianos. 

Poderia, mas não será, pois para que algo possa ser considerado um disparate por alguém, esse alguém teria que tomar ciência desse possível disparate e, como ninguém lerá isso, disparate não será. 
Aos vinte e tantos anos, onde esse "tantos" pode pode significar quatro ou cinco, eu me fiz a seguinte indagação: "se eu não torcesse por time algum e fosse escolher hoje um time, qual escolheria?"
Para responder a isso, procurei saber um pouco da história de cada time grande paulista. 














Descartei logo de cara o São Paulo, pois ainda hoje dizem-se representantes da elite sócio-econômica e, embora isto seja falso, só esta vontade em o ser já me cria repulsas o suficiente para não torcer por este, até hoje, tricampeão mundial. O Palmeiras e o Santos têm histórias bonitas, cada um à sua maneira. Como todos sabem, o primeiro teve que mudar de nome durante a segunda guerra mundial pelo fato do Brasil ter declarado guerra à uma aliança de países que continha a Itália como um de seus integrantes. Seguiu sua vida com outro nome, ganhou importantes títulos e revelou grandes jogadores. O Santos ganhou tudo entre o final da década de mil novecentos e cinquenta e toda a década de mil novecentos e sessenta. Com Pepe, Mengálvio, Pelé e Coutinho, aquele time triturava seus adversários e colecionava título atrás de título.

Na história do Corinthians, também encontram-se grandes esquadrões e grandes jogadores, títulos e futebol arte, não no mesmo nível do Santos mencionado anteriormente, mas encontram-se. Porém, há dois fatos grandiosos dentro da esfera do futebol e um terceiro que transcende este. 

O primeiro fato que atraiu minha atenção foi a invasão corintiana ter acontecido quando o time passava por um jejum de títulos que durava já vinte e dois anos. Setenta mil corintianos no Maracanã para ver uma semifinal, nem final era, contra o Fluminense. 

O segundo fato é parecido com o primeiro, um Morumbi lotado para ver a final do Paulista de mil novecentos e setenta e sete entre Corinthians e a Ponte Preta. E viram um emocionante e chorado gol em que a conclusão final se deveu a Basílio, mas a construção toda foi dramática. Quem puder ouvir a narração de Osmar Santos deste gol, faça. É de arrepiar. 

O terceiro fato, aquele mais importante, aquele que eu disse transcender o futebol, foi a Democracia Corintiana. Foi no início da década de mil novecentos e oitenta e o Brasil passava por um período ruim do ponto de vista democrático, pois o país era governado pelos militares sem a opção do voto direto populacional para escolher seus governantes, um regime que matou vários brasileiros inconformados com censura, perdas de direito, entre outras coisas. E o Corinthians, liderado pelo Sócrates, instaurou uma democracia que orgulharia seus criadores gregos, pois até para decidir se o ônibus do time faria uma parada para alguns jogadores irem ao banheiro, os jogadores, comissão técnica, funcionários etc, faziam votação aberta. Sensacional para essa época. E este time usou da vitrine do futebol para levantar a questão em nível nacional. Os jogadores divulgavam e defendiam algo que não beneficiaria somente corintianos, mas todos os rivais, pessoas que não ligavam ou não gostavam de futebol, beneficiaria o Brasil.



Assim, eu pude responder à pergunta formulada por mim mesmo e obviamente escolheria este time sem Libertadores até agora e que joga num estádio cujo qual não é proprietário. Esse time fez mais pelo Brasil do que todos os outros.




Logo, senhoras e senhores, movido a uma escolha consciente ou a imposição familiar, eu escolhi o Corinthians, o time que tem mais a contar quando o assunto não é futebol. 


16 comentários:

  1. Obs.: Agora o Corinthians tem uma Libertadores. Eu escrevi ontem antes do jogo (Corinthians x Boca Juniors - 04/07/2012)

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    1. Hahahaha, isso torna uma frase do texto falsa. Ainda bem!!!!

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  3. Gostei do texto.

    "o time que tem mais a contar quando o assunto não é futebol"

    Ótima frase

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  4. Fiquei muito surpreso com duas coisas:
    Primeira: me deparei com comentários que não eram meus em meu blog.
    Segunda: os comentários foram positivos.

    Obrigado pessoal.

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  5. Parabéns! O seu texto retrata o sentimento de todo corinthiano. Com razão ou emoção sempre TIMÃO.

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  6. Nunca torci pra nenhum time (talvez por falta de incentivo), mas é indiscutível a influência do futebol no nosso país, especialmente do Corinthians. Escreve lindamente!

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    1. Você não tem ideia do quão envaidecido eu fiquei ao ler o que escreveu. Obrigado, Marina!

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  7. Pessoal, quem quiser entender um pouco do que foi a Democracia Corintiana, veja esse vídeo:

    http://www.youtube.com/watch?v=MNyRGt95cWw

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  8. Muito legal seu ponto de vista. Eu fiz isso também, dar uma olhada nas histórias dos maiores times do Brasil, quando eu era menos (ou des)ocupado e mais apaixonado por futebol. Acho que pensando estritamente em futebol, Palmeiras, Santos, Botafogo e Flamengo são os times mais importantes da história do Brasil. Mas extra-campo (e isso inclui o clube, a Democracia, a torcida, a influência social) o Corinthians é o que tem mais pra se orgulhar com certeza.

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  9. Isso é o que me chamou a atenção, Fernando. Alguns momentos da história do Corinthians extrapolam o futebol. Vale lembrar que na história do Palmeiras e do Cruzeiro, também tem passagens extra campo, quando esses times tiveram que mudar de nome por causa da segunda guerra mundial. Mas foi uma imposição externa que mudou algo internamente. No caso da Democracia Corintiana, foi algo de dentro para fora.

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  10. Texto sensacional Lucão!!! Está de parabéns e acho que ambos escolhemos bem o time de futebol de coração!!!! Abraço Tanabi

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