domingo, 28 de abril de 2013

Sistema de cotas

Recentemente saiu uma notícia dizendo que o desempenho do alunos cotistas é inferior ao de alunos não-cotistas em universidades públicas. E isso serviu de argumento para muitas pessoas que são contra o sistema de cotas através de compartilhamentos de posts dessa natureza no facebook. Pois bem, será que o fato do desempenho dos cotistas ser pior do que o desempenho dos não-cotistas é sinal de que o sistema de cotas é um fracasso?

Antes de escrever sobre esse (falso) argumento, eu achei uma matéria interessante argumentando exatamente o contrário da referida notícia do primeiro parágrafo. Caso queira ler, clique aqui (matéria da IstoÉ).

Primeiramente, o sistema de cotas raciais não surgiu no Brasil. Nos Estados Unidos da América, esse sistema foi adotado pelas universidades, em meados de 1960, para diminuir a disparidade social existente entre negros e brancos de lá. Vale lembrar que o presidente Barack Obama cursou direito na universidade de Harvard através do sistema de cotas raciais. A filosofia do sistema de cotas foi a de se ter a mesma proporção racial nas universidades que se tem na sociedade. Tomara que o leitor tenha a consciência de que, enquanto a elite política de um país for branca e euro-descendente, as leis criadas continuarão a privilegiar os brancos euro-descendentes (isso não só vale para cor de pele, mas também enquanto os políticos forem moralistas cristãos, outros problemas, como homofobia e intolerância religiosa, continuarão a persistir, mas isso não tem a ver com cotas raciais, então não prosseguirei).

Então, para se ter uma participação real de todos os grupos (pequenos ou grandes) nas esferas políticas de um país, esses grupos têm que estar representados fidedignamente em todas as esferas economico-sociais desse país. Ou seja, temos que ter negros e indígenas médicos, advogados, professores, empresários, engenheiros etc. Se todos os grupos raciais estiverem representados, na mesma proporção existente na sociedade, nas várias esferas dessa mesma sociedade, aí sim teremos um cenário mais justo pela luta de direitos e deveres. Porém, sem o sistema de cotas, teremos uma luta desigual pelo direito, pois a elite continuará sendo formada por brancos. Quando eu entrei na universidade em 2002, quando ainda não se tinha o sistema de cotas, foram 55 aprovados no vestibular para o curso de Matemática da Unesp de São José do Rio Preto, apenas um negro. Isso não representa a realidade do Brasil. Então é por isso que defendo a continuidade do sistemas de cotas raciais/sociais neste país, até que tenhamos o cenário ideal descrito anteriormente. 

Bom, visto que a educação dada nas escolas públicas não é da mesma qualidade que a educação dada nas escolas particulares (há ressalvas, mas enfim...), me parece claro e perfeitamente esperado que o rendimento dos cotistas seria pior do que os brancos não-cotistas, que geralmente são de classe média e que estudaram em escolas boas. Não vejo isso como um argumento contra o sistema de cotas, muito pelo contrário, isso é um indicativo forte de que realmente as oportunidades não são iguais para todos os grupos raciais no Brasil. Ou seja, é um sinalizador de que o sistema de cotas tem de continuar.

É claro que há pequenos problemas no sistema de cotas, é claro que há alguns casos estranhos nas aprovações por esse sistema, mas será que esses problemas são maioria ou exceções? Não é porque dois irmãos gêmeos esbarraram na situação inusitada de um ser classificado como negro e o outro branco, sendo ambos idênticos, que o sistema de cotas não é uma boa ideia. Ele tem de ser aprimorado, melhorado, melhor executado. Só isso!

Acho que o ator Pedro Cardoso resumiu bem, em pouco mais de um minuto, tudo que eu queria dizer neste texto:




  P.S.: sei que a palavra "raça" não é mais usada para descrever cor de pele e concordo com o argumento para não usá-la (não somos de raças diferentes, somo todos a mesma espécie), mas por limitação criativa, ou de pesquisa, desse pseudo-escritor, resolvi usar o termo supondo que o leitor entenderá que o foco é mostrar que o argumento descrito no primeiro parágrafo é falso. Leia mais sobre cotas raciais para ter bons argumentos para defender seu lado, deixando de lado alguns argumentos furados. 

Um comentário:

  1. Discordo completamente do seu argumento à favor dessa política discriminatória...

    Por isso fiz essa réplica:

    http://engbrunoeilliar.webnode.com.br/news/devaneios-cotas/

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