sexta-feira, 10 de maio de 2013

"Lembra o que o exercício está pedindo?"

Ultimamente tenho percebido que boa parte da dificuldade dos alunos ao se depararem com um exercício de Matemática é a compreensão textual. O aluno não entende o que o exercício lhe pede quando o enunciado tem duas linhas ou mais. Também vi que eles têm dificuldade de organizar os dados de um exercício. Será que isso é um problema de outra área e eu, professor de Matemática, não devo me colocar como culpado?

O nosso ensino escolar ocidental é compartimentado, ou seja, cada matéria pertence a uma gaveta, cada matéria está um tanto isolada das demais. E nós, professores e sociedade, esperamos que, num passe de mágica, o aluno seja capaz de relacionar todas as matérias num único saber. É claro que isso não acontece, mas fico surpreso com o espanto dos professores acerca disso, ou seja, do aluno não correlacionar tópicos comuns a mais de uma disciplina. 

Recentemente o professor de Português do colégio onde dou aulas me pediu algumas questões de Matemática com enunciados contendo todos os dados suficientes para a resolução da questão de modo que não haveria necessidade do aluno recorrer à formulas ou regras que não estavam no enunciado. Pois bem, foram questões simples, em que o enunciado trazia o que e como fazer. Ainda assim, os alunos não conseguiram desenvolver suas respostas, mesmo os que são considerados bons em exatas. Por quê? Dificuldade na compreensão textual.

Não vi dados estatísticos sobre isso, mas acho que é sensato pensar que quanto mais uma pessoa lê, mais ela melhora sua compreensão textual. Assim, tendemos a pensar que devemos enfiar Machado de Assis goela abaixo nos estudantes, porém, se a compreensão textual deles é baixa, como ficarão empolgados ao lerem "Memórias póstumas de Brás Cubas"? Será um tiro pela culatra. Talvez eles devam começar com leituras mais simples e com enredos mais intrigantes, mas para isso, nós, professores, deveríamos mudar nossa cabeça demasiadamente acadêmica sobre o conteúdo dos livros a serem dados aos alunos.

Outro ponto de preocupação da minha parte é que o professor de Língua Portuguesa se vê solitário ao tentar melhorar a compreensão textual dos alunos. O de Matemática igualmente solitário ao tentar ensinar porcentagem ou gráfico de função. Talvez seja hora do corpo docente se unir, na medida do possível, para que o conhecimento viaje e permeie as disciplinas que são ensinadas isoladamente umas das outras. 

Essa inquietude é decorrente do fato do autor desse texto não gostar de classificações finais sobre a capacidade de aprendizado de alguém. Odeio quando algum professor diz que o aluno é ruim ou é inteligente, como se fosse uma questão inata ou adquirida e nunca perdida. Isso tira o mérito daquele aluno que têm boas notas, pois parece que ele não se esforça, não estuda, não lê, apenas nasceu assim ou ficou assim para sempre. E o mesmo vale para aqueles que estão tendo dificuldade no aprendizado, pois classificando este aluno como sendo (e não como estando) ruim, tira a responsabilidade dos ombros do professor. 

Para não ficar em devaneios teóricos, posso dar um exemplo (sem citar nome) de uma aluna que, no ano passado, não conseguia escrever uma frase sequer com coesão, mas que nesse ano está tirando as notas mais altas de sua sala. Mágica? Nem pensar, foi um trabalho em conjunto de alguns professores e, claro, muito esforço da parte dela. Demorou muitos meses para essa melhora ser sentida em notas, mas começou nesse primeiro bimestre. 

Termino esse texto com a conclusão de que ensinamos muito pouco. Por exemplo, cobra-se dos alunos que estudem, mas alguém, um dia, os ensinou como estudar?


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