domingo, 17 de março de 2013

Ansiedade e nervosismo.

Engraçado o funcionamento de nosso corpo em certas situações, principalmente aquelas que nos deixem apreensivos, tensos. Parece que ligamos a chave do automático e fazemos o que temos que fazer.

Fui escolhido para ser paraninfo de uma turma do colégio onde dou aulas. Com essa escolha, agora tenho uma média de ser paraninfo uma vez a cada dois anos. Tudo bem que eu comecei a dar aulas há dois anos e essa foi a minha primeira vez como paraninfo, mas é a média até o momento. 

Com a escolha, vem a responsabilidade de um discurso. O que dizer a uma turma de pessoas de catorze ou quinze anos? Geralmente, nesses discursos, tenta-se dizer algo sobre o futuro sem nostradamisar a fala. Então eu estava com a vaga ideia de falar algo acerca do futuro. E assim, eu fiz o meu discurso. Falei principalmente das escolhas que eles terão que fazer, mas sem especificar alguma. Da importância dos conselhos dos mais velhos, e me inclui nesse grupo, dizendo também que quem tem que aceitar ou não um conselho proferido é justamente eles mesmos. Está claro que me baseei no  existencialismo de Jean-Paul Sartre

Mas o foco desse texto, esse que vos escrevo agora, não o discurso, é compartilhar as reações corpóreas que eu tive enquanto discursava. Comecei a ficar nervoso logo no início da cerimônia, sendo dois dos sintomas a secura na boca e minha perna que não parava de mexer. Trouxeram um copo de água, comecei a bebê-lo e percebi que começou a me dar uma vontade enorme de ir ao banheiro. Parei de beber a água. Coloquei a mão no bolso para certificar-me que o discurso continuava ali. Passei os olhos nos pontos principais, pois era só isso que tinha no papel. Não escrevi meu discurso, não gostei da ideia de ir ao microfone e ler um texto pronto. Organizei o que eu queria falar em alguns tópicos. Apenas uma passagem de um texto eu copiei, pois essa eu queria ler com exatidão, o resto eu falaria na hora com as ideias que me fossem surgindo. 

Para minha surpresa, as ideias não me fluíram como eu esperava, a quantidade de possibilidades que me aparecia a mente em cada tópico era limitadíssima, bem baixa mesmo. E o nervosismo chegou a um ponto em que eu me vi fazendo o discurso ligado no automático. Só quem passou por isso me entenderá. Eu estava falando, mas não raciocinando. Parecia que eu estava calado, apenas observando o Lucas que estava falando. Estranha sensação. Estranha também foi a reação dos ouvintes, quando ficaram calados depois de uma piadinha, que na verdade serviria para ME descontrair, e quando riram depois de algo sério que eu falei. Achei engraçado isso. 

Ainda não sei se o recado, que eu tinha em mente passar para os alunos, foi passado de forma entendível. Queria muito que eles entendessem o que eu queria falar, mesmo que não concordassem. E, assim que terminei o discurso, eu tentei passar mentalmente o discurso e a reação dos alunos para ter uma ideia melhor sobre eles terem ou não entendido, mas confesso que a maior parte do que se passou enquanto eu estava com o microfone na mão apagou-se de minha cabeça. 

E assim fui sentar no meu lugar, com um ponto de interrogação na cabeça e avistando a bela senhorita, autora da citação feita por mim, boquiaberta. 

3 comentários:

  1. Você exprimiu aí uma sensação que eu pensava que fosse indescritível. Acho que a maioria de nós já se sentiu tão ansioso a ponto de sentir o estômago embrulhar ou o coração disparar... Às vezes temos tanto medo de uma situação que nossa alma parece se desprender do corpo, ou algo assim, a fim de que passemos por tudo como espectadores, sem sentir os receios da atuação. É quase a mesma sensação de ouvir um de seus textos ser lido durante um descurso de paraninfo... Surpreendente e maravilhoso. Quem te ouviu falar não diz que você estava nervoso, foi muito lindo o que disse! Principalmente a parte da liberdade de escolha de cada um, me fez pensar que nossa vida é absolutamente feita de escolhas, tanto as partes boas quanto as ruins....

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    1. Incrível como nosso organismo reage a essas situações, né. Marina, confesso que me deu uma curiosidade de ver seu rosto enquanto eu lia, ou mesmo depois da citação, mas o nervosismo não deixou. O Vinicius, irmão da Vanessa, me descreveu sua reação. Ele disse que mais uma dessa e eu te mato, acho que isso significa que gostou, então não pagarei os direitos autorais.

      Sobre essa citação, não há mistério nem rodeios, o texto é bom e, na minha cabeça, encaixou como uma luva no tema escolhido.

      Sobre as escolhas, eu sou sartriano, então dá pra entender o que eu penso sobre o assunto. Caso tenha curiosidade, leia "O existencialismo é um humanismo", tem na internet.

      Feliz por você ter gostado do discurso que eu nem lembro direito e feliz por saber que fez sentido para alguém.

      Como o Batman disse ao Coringa certa vez: sou criação sua!

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  2. Hahahah, quem diria que eu estava sendo assistida... Passei a semana com esse trecho do discurso na cabeça. Lembro até da entonação que deu à frase...

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