quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Dever cumprido ou alívio momentâneo?

Saí, vi a faixa e um sorriso abriu em meu rosto.

Gosto muito de dar aulas, adoro Matemática, então posso dizer que minha vida está indo muito bem. Mas isso não significa que sou um cara de certezas ou afirmações absolutas. Não o sou, sempre me questiono quanto ao que eu faço de várias perspectivas, sendo algumas delas as clássicas: gosto do que eu faço?, o que eu quero ao ensinar Matemática?, que tipo de pessoa quero formar?, educar para o vestibular ou criar um cidadão politizado? etc. 

Confesso que é difícil respondê-las. Então fico naquele processo piagetiano de equilíbrio e desequilíbrio para a compreensão da tarefa imposta a mim por mim mesmo. Vale notar que na última pergunta acima, o 'ou' é inclusivo, não exclusivo (lembram das aulas de "tabelinha verdade"?). Por vezes há um exercício que me deixa no seguinte dilema: fazê-lo usando as fórmulas ou resolvê-lo fazendo os alunos raciocinarem comigo? Quem me conhece sabe que sempre gostaria de escolher a segunda opção, mas há o limitado tempo de aula e um cronograma que me deixa um pouco tenso caso a matéria atrase um pouquinho que seja. Fico nessa corda bamba entre fazê-los entender que a Matemática é mais uma Filosofia do que uma ciência e fazê-los acatarem-na como um meio de resolução de problemas. 

Sempre que preparo uma aula, penso nisso tudo para ser aplicado em quarenta minutos. Sim, quarenta, pois dez minutos serão gastos com outras coisas, mas não me arrisco a dizer "perdidos", pois, às vezes, são realmente perdidos com conversas, indisciplinas etc., mas muitas vezes, esses dez minutos são o prolongamento de uma conversa cujo gatilho foi uma dúvida em um exercício específico, ou uma discussão produtiva sobre matéria, vida, dificuldades deles (alunos) etc. Assim, aquelas perguntas do começo ficam pairando ao meu redor enquanto me debruço resolvendo os exercícios da próxima aula. 

E as dúvidas cruéis ficam: será que estou ensinando direito? será que eles me entendem? será que, daqui um ano, lembrarão que a soma dos ângulos internos de um triângulo é cento e oitenta graus? será que, saindo debaixo de minhas asas, eles conseguirão voar por si só? (não que eu saiba voar, mas tenho que ensiná-los a conseguir tal proeza). 

E hoje, terminada mais uma rodada de aulas, saio do colégio e mostram-me uma faixa, uma faixa simples. Mas nela tem algo que me deixa um pouco tranquilo quanto ao meu trabalho. Que me deixa feliz. E eu rio olhando-a. Rio de alegria por eles e por mim também. 



5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Queria dizer que chorei hiperbolicamente, mas seria mentira; foi no sentido denotativo, mesmo.

    Nem preciso dizer que te acho um excelente professor (ou preciso?). O que mais admiro no seu método, além de tentar nos fazer entender todas aquelas fórmulas cabulosas, e não somente decorá-las, é a amizade que tem com os alunos. Não sei se isso é inerente a você ou se optou por lidar conosco assim, mas, pelo menos pra mim, é muito mais fácil e prazeroso aprender com professores dos quais se gosta.

    Infelizmente, há coisas que fogem da sua capacidade de lecionar. Lembrarmos ou não que a soma de dois dos ângulos internos de um triângulo é igual ao suplementar do terceiro depende mais de nós que de você ter sido um bom professor. É tão gostoso te ouvir falar, porque é fácil notar que realmente gosta do que faz (tipo quando termina de explicar algo particularmente difícil, vira e fala "Não é lindo isso?").

    Enfim, devo muuuuito a você! Matemática não é fácil, e mais difícil ainda é achar alguém que saiba explicar. Chegue onde chegar, sempre vou lembrar que o mérito está longe de ser unicamente meu: é de todos os meus professores também. Talvez soe piegas, mas não dava pra falar de outra forma... Belo texto, Lulu!

    *Maldita síndrome do Word. Tive que repostar o comentário por um mísero erro de concordância, ou não me perdoaria nunca

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    1. Está aí uma ótima questão. A amizade criada com vocês não foi uma opção consciente, mas também não sei dizer se é algo inerente a mim. Aconteceu com vocês.

      Aprender com professores dos quais se gosta é sempre mais fácil. A escola não pode ser algo estritamente racional, tem que ter um certo "prazer como impulsionador da vida". A escola tem que ser um local gostoso, prazeroso para se estar (para todos: alunos, professores, diretores e demais funcionários). E sinto isso no Alfa.

      Apesar de você ter escrito que sempre teve alguém para pegar na sua mão para atravessar a rua e que viveu cercada de carinhos e cuidados, acho que irá voar sim, no momento apropriado. Não se acomode com essa observação minha, continue a caminhada.

      Ainda bem que corrigiu o erro, jamais a perdoaria. Haha...

      P.S.: Você escreveu melhor do que eu a proposição sobre a soma de dois ângulos internos de um triângulo. Vou copiar essa frase sua nas minhas aulas. :)





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  3. Na noite retrasada (lá pela meia noite) assisti um documentário chamado "A História da Matemática". Não sei se você conhece. É apresentado por um cara magro, de cabelos brancos, que fala em inglês mas tem sobrenome francês (http://www.youtube.com/watch?v=4xxJ1RcxMaQ). Ele passeia pela Europa indo até a casa ou escola do próximo pensador que irá apresentar, mostrando a "Vida". Foi lindo redescobrir que Descartes não é apenas o cara das "Meditações Metafísicas" e que Leibniz escreveu até um tratado sobre como reaproximar Católicos e Protestantes. Ser professor desta ou daquela matéria pode, PODE, dar a impressão de que são coisas desconexas, mas o espírito humano e seu incessante desejo de Saber está acima de qualquer fragmentação artificial que possamos operar sobre os produtos desta busca.
    Tudo isto para dizer que são poucos os que conseguem reconhecer a beleza deste processo; Ainda menor o número daqueles que são capazes de transmitir isto, como o senhor faz em suas aulas e Srta. Marina evidenciou tão bem aqui!
    Parabéns ao senhor pela Postura, aos alunos pelo esforço em acompanhá-lo e à Marina pelo reconhecimento, não apenas no comentário acima, mas sobretudo pelo fato de ter seu nome naquela faixa. Esta é a maior retribuição que um professor pode receber de um aluno!
    Que a Força esteja com todos!

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    1. Nossa, fiquei curioso Marcelo, vou tirar uma horinha para assistir.

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