terça-feira, 20 de julho de 2010

Sobre a pior morte.

Fui num velório esses dias. Não foi o primeiro da minha vida. Durante o velório me ocorreu um pensamento: me parece que a tristeza das pessoas é maior do que a tristeza que seria causada pela morte por si só. Sem saber se isso estava certo ou não, comecei a me perguntar porque isso ocorre (supondo que realmente ocorra, o que, como já disse, eu não sei).
Mesmo quando alguém está num estágio horrível de alguma doença que não tem cura, e ainda que sua morte é tida como muito provável em curto prazo pelas pessoas à sua volta, quando a morte nessas circunstâncias chega, a tristeza é geral e ainda assim, ao meu ver, é maior do que seria esperado, me refiro aqui à palavra 'esperança' num sentido de probabilidade e estatística (esperança, expectativa, E(x) etc). Acho que isso não se deve à morte por si só, mas sim pela morte da esperança, e aqui me refiro à esperança humana, aquela que é a última a morrer. Não a científica.
Quando as pessoas não tem nem mais a esperança a que se agarrar, isso leva a um estágio de 'paralisia mental'. Morreu, não tem volta, não tem quem salve, não tem o que fazer, portanto morre-se também a esperança. Acho que a morte da esperança potencializa a tristeza na morte de um ente. Mesmo que essas duas mortes andem juntas em boa parte do tempo, elas são diferentes. Não consigo pensar num exemplo em que uma ocorra e a outra não, para, didaticamente, poder separá-las.
Enquanto uma pessoa doente tem vida há esperança, não importa em que estágio esteja. Não importa se já está de cama, ou se já não tem reações de movimento, se já não tem tato, ou se está em coma. Só o fato de ter vida faz com que a esperança exista. A morte nos traz um duro golpe: a morte da esperança.

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