Depois de ler alguns argumentos favoráveis ao aumento da tarifa do transporte público e de perceber que a maioria deles era centralizada no aumento de acordo com a inflação, resolvi fazer uma pequena pesquisa em alguns sítios sobre o assunto. O objetivo era comparar os gastos daqui com os mesmos gastos em outros países.
Assim, encontrei duas páginas que me ajudaram nessa tarefa. Em uma delas encontrei uma lista com salários médios por país por mês. Os salários estão em PPC dólares, ou seja, em dólares relativos à paridade do poder de compra. E na segunda página eu encontrei uma lista com o preço médio de uma passagem de condução (ônibus, metrô ou bonde) por cidade, em dólares.
Metodologia.
O cálculo foi simples, considerei quantas passagens era possível comprar com o salário médio do país em questão. É o mesmo que calcular a porcentagem de uma passagem em relação ao salário médio, porém de uma maneira mais didática.
Observações importantes.
Provavelmente há erros gerados pelo fato de uma página tratar do salário médio de um país e a outra página tratar da passagem média por cidade. Nada garante que o salário médio do país seja igual ou próximo do salário médio de uma cidade deste mesmo país. Outro detalhe, quando aparecia mais de uma cidade do mesmo país na segunda lista, por exemplo Rio de Janeiro e São Paulo, eu calculei a média aritmética das passagens médias das duas cidades.
Mesmo com esses possíveis problemas, é possível ter uma ideia do quão caro custa a passagem dos transportes coletivos em São Paulo e no Rio de Janeiro.
Vamos à tabela. Nela eu destaquei Argentina, Chile, Colômbia e Brasil, pois são os países da América do Sul que possuem dados em ambos os sítios citados no início do texto.
Países (cidades)
|
Salário Médio (US$ PPP)
|
Preço médio da passagem (US$)
|
N°s de passagens por salário
|
|
1º
|
Argentina (Buenos Aires)
|
1.108,00
|
0,28
|
3.957
|
2º
|
China (Pequim)
|
656,00
|
0,26
|
2.523
|
3º
|
Turquia (Istambul)
|
1.731,00
|
0,95
|
1.822
|
4º
|
EUA
|
3.263,00
|
1,92*
|
1.699
|
_Los Angeles
|
-
|
1,50
|
-
|
|
_Miami
|
-
|
1,83
|
-
|
|
_Nova Iorque
|
-
|
2,42
|
-
|
|
5º
|
Índia
|
295,00
|
0,19*
|
1.553
|
_Mumbai
|
-
|
0,13
|
-
|
|
_Nova Délhi
|
-
|
0,25
|
-
|
|
6º
|
África do Sul (Johanesburgo)
|
1.838,00
|
1,25
|
1.470
|
7º
|
Rússia (Moscou)
|
1.215,00
|
0,85
|
1.429
|
8º
|
França (Paris)
|
2.886,00
|
2,16
|
1.336
|
9º
|
Grécia (Atenas)
|
2.300,00
|
1,81
|
1.271
|
10º
|
Itália (Roma)
|
2.445,00
|
1,94
|
1.260
|
11º
|
Hong Kong (Idem)
|
1.545,00
|
1,33
|
1.162
|
12º
|
Espanha
|
2.352,00
|
2,27*
|
1.036
|
_Madrid
|
-
|
1,94
|
-
|
|
_Barcelona
|
-
|
2,59
|
-
|
|
13º
|
Japão (Tóquio)
|
2.522,00
|
2,46
|
1.025
|
14º
|
Hungria (Budapeste)
|
1.374,00
|
1,43
|
961
|
15º
|
Alemanha (Berlim)
|
2.720,00
|
2,98
|
913
|
16º
|
Canadá (Toronto)
|
2.724,00
|
3,08
|
884
|
17º
|
Chile (Santiago)
|
1.021,00
|
1,17
|
873
|
18º
|
Inglaterra (Londres)
|
3.065,00
|
3,70
|
828
|
19º
|
Colômbia (Bogotá)
|
692,00
|
0,84
|
824
|
20º
|
Austrália (Sydney)
|
2.610,00
|
3,43
|
761
|
21º
|
Noruega (Oslo)
|
3.678,00
|
5,12
|
718
|
22º
|
Suécia (Estocolmo)
|
3.023,00
|
4,52
|
669
|
23º
|
Brasil
|
778,00
|
1,55*
|
502
|
_São Paulo
|
-
|
1,53
|
-
|
|
_Rio de Janeiro
|
-
|
1,56
|
-
|
*Média aritmética dos valores das passagens de cada cidade do país.
Enquanto que, com o salário médio, na Argentina uma pessoa consegue comprar quase 4.000 passagens unitárias, no Brasil uma pessoa consegue comprar cerca de 500 passagens. Entretanto, podemos pensar que essa comparação não é boa porque, embora sejam dois países vizinhos, o salário médio lá é 42,4% maior do que o daqui.
Porém, olhando para os dados da Colômbia, percebe-se que a passagem média no Brasil é caríssima, pois na nossa vizinha Colômbia, que embora tenha um salário médio parecido com o do Brasil, uma pessoa consegue comprar 824 passagens, ou seja, 64,8% a mais do que uma pessoa no Brasil.
E se quisermos comparar com países cuja semelhança com o Brasil seja do ponto de vista econômico? Veja o gráfico abaixo. Em azul estão os países do Bric, Brasil, Rússia, Índia e China.
Através dessas tabelas, dá para se ter uma ideia do quão caro já é o preço da passagem unitária em São Paulo e no Rio. Portanto, quando alguns defensores do aumento da passagem argumentam que aqueles vinte centavos do ano passado eram uma correção abaixo da inflação, há de se ter a ideia de que o preço atual já está acima do que deveria ser cobrado.
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