segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Ateísmo, deísmo e a inversão da causa com a consequência.

Ateísmo. Falsa felicidade? Egoísmo? Transgressão de toda e qualquer conduta moral? Negação de toda conduta ensinada nas diversas religiões? Afinal, o que é o ateísmo?

A vontade de escrever sobre o tema surgiu-me depois de concluírem que sou tudo o que foi escrito no primeiro parágrafo em forma de perguntas, excetuando a última, claro está, por ser ateu. 




Uma passada rápida ao michaelis poderia evitar alguns equívocos a respeito do ateu, pois leria-se de cara "indivíduo que não crê na existência de Deus". E é só isso, senhoras e senhores, nem mais, nem menos.

Há uma vontade quase que inconsciente, quase!, nos seres humanos de colocarmos defeitos, ou consequências ruins, em tudo que não faz parte de nosso grupo, isto é, em todas as pessoas que se dizem não pertencer a um rótulo que nos cabe. Assim sendo, quando uma pessoa se diz ateia, o cérebro de um religioso trabalha no sentido de ligar toda e qualquer característica considerada ruim dessa pessoa ao seu ateísmo. 

Ateístas de plantão, tirem o sorriso da boca! Isso também se aplica a vocês, ou seja, quando alguém se diz religioso a um ateu, o cérebro deste ateu também trabalha desta maneira, transformando a religiosidade da pessoa em questão como sendo a fonte única de seus defeitos. 

Senhoras e senhores, ateus e religiosos, nem ao céu, nem ao inferno, por favor! 

A única pergunta levada em consideração, para sermos ou não ateus, deveria ser "Para  mim, deus existe?". E quando escrevo deus, me refiro a qualquer divindade ou entidade não terrena, isto é, deus, deuses, anjos, diabo, espíritos etc. 

O erro que as pessoas, ateias ou deístas, deixam-se cair é analisar as consequências dessa decisão, da resposta à pergunta proposta, invertendo assim causa com consequência.

"Se uma pessoa é ateia, então é má, anti-ética, imoral, não vai para o céu, é egoísta, vive na falsa-felicidade etc". 

"Se uma pessoa é religiosa, então é bitolada, inculta, vive a falsa bondade, ou seja, só é boa por temer a punição, é intolerante etc".

Além de termos duas relações condicionais falsas, elas apenas analisam, e de maneira equivocada, as consequências, no lugar das causas, da resposta à pergunta "Para mim, deus existe?".




Se você acha que o mundo de hoje só faz sentido através da criação e regência por uma, ou mais, divindade, ou divindades, então você é deísta. Caso você considere que o mundo que o cerca não faz sentido sendo pensado com uma intencionalidade maior ou criação divina, então você é ateu. E é só!

Agora, não rotule ninguém por sua escolha, você estará caindo na armadilha do ego. Seu deísmo ou ateísmo deve ser suficiente e satisfatório para você. Pensar que o outro é pior que você, porque respondeu diferentemente à pergunta da existência de deus, é alimentar seu próprio ego através de preconceito. Ou pior, esse pensamento comparativo pode servir, inconscientemente, para justificar a si próprio, de uma maneira bizarra, a sua resposta ou escolha. 

Felicidade, altruísmo, conduta moral e ética, são conceitos que independem da existência de deus, ou deuses. Viver harmoniosamente em sociedade, pensando no próximo assim como em nós mesmos, é uma escolha que independe de religiosidades ou deísmos. Afinal, se você é bom por ter medo do seu deus ou da punição que receberá dele, você não é bom, é apenas adestrado. E se você é bom pela recompensa que receberá de seu deus, então é um mercenário. 

Se você é ateu por achar a bíblia incoerente, você assinou o atestado de estupidez, pois o fato da bíblia, ou corão, ou qualquer outro livro que norteia uma religião, ser incoerente, não implica a inexistência de divindades. Se você é ateu por achar que o comportamento dos religiosos fervorosos não te agrada, você está caindo sobre o raciocínio extremista e dicotômico do "ame-o ou deixe-o". 

Você pode ser deísta sem ser bitolado, sem ser adestrado e sem ser mercenário. De maneira análoga, você pode ser ateísta sem ser egoísta, sem menosprezar estupidamente os religiosos e sem pensar dicotomicamente nessa relação. 

Sua escolha em ser ateísta ou deísta está apenas, e tão somente, perdoem-me o pleonasmo, relacionada à sua resposta pessoal à pergunta "Para mim, deus existe?".







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