segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Niilista com relação ao sistema educacional atual.

"A escola tradicional é um poderoso meio de subjugação nas mãos dos dirigentes; que habitua as crianças a obedecer e a pensar segundo seus dogmas sociais."

Essa frase parece pensamento de Paulo Freire ou Rubem Alves ou, ainda, de Ken Robinson, mas não. Essa frase foi dita há mais de cem anos por um espanhol chamado Francisco Ferrer y Guardia, um revolucionário libertário que criou uma escola com os seguintes ideais:


  • Ampla importância às atividades físicas e manuais;
  • Abolição dos métodos de recompensas e castigos;
  • Não havia competição entre os alunos. Buscava-se formar um ser moral e físico bem equilibrado e totalmente autônomo



Ou seja, o oposto do que a escola ocidental, e especificamente a brasileira, profere hoje. Em uma palestra de apenas 20 minutos (clique aqui para vê-la), Ken Robinson expõe os problemas da nossa educação ocidental de uma maneira bem humorada. Dentre eles, destaco: a imprevisibilidade do futuro, o que derruba alguns argumentos da escola ser assim para preparar as crianças para o que virá em suas vidas, grande importância à línguas e matemática em detrimento de artes e música, por exemplo, o assassinato, por parte dessa educação, da criatividade da criança e a intolerância com relação aos erros.

Ferrer y Guardia dizia "prefiro a espontaneidade livre de uma criança que não sabe nada, à instrução de palavras e a deformação intelectual de uma criança que sofreu a educação atual". Apesar da palavra 'atual' referir-se a 1912, ela pode ser aplicada a hoje, 2013, cento e um anos depois de Ferrer tê-la dito. Pecamos nos três pilares educacionais propostos pelo espanhol, ou seja, cada vez menos damos importância às atividades físicas e manuais, baseamos todo nosso processo avaliativo em provas, sejam elas, bimestrais, recuperações, vestibulares ou demais processos seletivos, e, com isso, criamos e enfiamos na cabeça de nossos alunos uma competição, pois eles compram a ideia de que uma nota é uma tradução fiel da sua inteligência e da sua capacidade.

Grifei, no terceiro ideal de Ferrer, "totalmente autônomo" por constatar a incapacidade dos alunos em criar, em pensar, em usar as ferramentas aprendidas em aula numa situação problema. O que afirma que o problema está em nós, professores, e no sistema educacional vigente em nosso país, cujo qual adotamos e o levamos em sala de aula sem questioná-lo, fazendo-me pensar que nós, professores, não somos seres "totalmente autônomos". A constatação anterior atingiu-me o cérebro quando, depois de ensinar semelhança entre triângulos, propus o seguinte problema: suponha que você esteja diante da pirâmide de Quéops, no Egito, durante o dia e que queira saber a altura desta, mas não dispõe de nenhum instrumento para medições, o que você faria para saber a altura desta pirâmide? O problema foi baseado no que fez Tales de Mileto na necrópole de Gizé.

Percebi que nas questões em que eles precisavam apenas reproduzir algo visto anteriormente, saiam-se bem. Mas nessa situação em que teriam de criar uma estratégia e usar alguma ferramenta abstrata vista em aula, não foram nada bem (uma resposta satisfatória dentre 30 alunos). Concluí que eu não os ensino a pensar, apenas a reproduzir. O que acontece aos montes, imagino eu, no Brasil todo.



Logo, esse sistema educacional segue a todo vapor, pois através dele a população é adestrada a aceitar sua condição histórico-social e política, faz com que uma pessoa aceite uma condição adversa em troca de um bom salário, não questione a falta de sensibilidade para um tratamento humano adequado etc.

Claro que não consigo desatrelar esse sistema escravagista-educacional à necessidade de se ter mão-de-obra a ser explorada pelo topo da pirâmide sócio-econômica. Assim, é necessário que se tenham físicos, engenheiros, matemáticos, estatísticos, biólogos, químicos etc, para que os donos de bancos, construtoras, empreiteiras, grandes conglomerados de cosméticos e demais possam direcionar para si mesmos o fluxo do capital circulante na economia.

O sistema educacional poderia ser o caminho libertário do indivíduo e da sociedade, desde que provesse os três ideais descritos por Francisco Ferrer y Guardia, porém ele é usado para perpetuar esse modo social, baseado em classes segundo seu poder aquisitivo, no consumismo e no individualismo.

Para quebrar isso, teríamos que rever nosso conceito sobre escola, não reestruturá-lo, mas sim esquecê-lo como é hoje e fazer um novo conceito sobre escola e sistema educacional. Mas será que seria possível existir uma escola sem salas de aula, sem classes separadas, sem um programa oficial a cumprir? Será?



P.S.: para estremecer os pilares fundamentais que vocês têm com relação à educação tradicional, leiam isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário