sexta-feira, 12 de abril de 2013

Surgiu a oportunidade.

Com seu início dentro do meu sonho e fazendo-me tomar consciência de que o sonho não passava de um sonho, o despertador toca e me acorda. Levanto e vou ao lado oposto do quarto para desligá-lo, não que eu o tivesse esquecido, na noite anterior, longe de mim, mas sim porque eu o deixo lá propositadamente pois, para desligá-lo, terei que levantar. Faço o café e esquento um pão com queijo. Caso a Biologia classificasse os seres vivos estritamente pelo que eles comem, talvez eu estaria mais para um rato do que para um homo sapiens. Mochila nas costas e pés na rua. 

Não havia nada em especial naquele dia que o diferenciasse de qualquer outro. Faça, o leitor, o favor de entender que a comparação daquele dia deva ser feita a qualquer outro com a mesma congruência módulo sete, ou seja, não havia nada naquela quarta-feira que a diferenciasse de qualquer outra quarta-feira. Pessoas, muitas pessoas no metrô. Sé, estações. Tudo tão igual que não me arrisco a tentar lembrar dos detalhes passados na viagem, pois poderia misturar com acontecimentos ímpares de outra quarta-feira. 

Chego na estação de descida e desço. Desço também as escadas e passo pela catraca, muitos rostos diferentes, mas quando as diferenças aparecem aos montes, nada há para se diferenciar. Tudo igual. Mas, não sei se por curiosidade, teimosia ou algum outro fator na história de minha vida, olho os rostos. Rostos com sono, com maquiagem e com sono e maquiagem. Rostos novos e velhos. Rostos com preocupação estampada ou sorrisos disfarçados. E mais um. E outro. 

Lá vem outro, ainda não o vi, mas me surpreenderá. E eis que o olho. "Nossa, que linda!". Houve a reciprocidade no olhar atirado a ela. Está quase a passar, mas a troca de olhares não parou. Mais de dois segundos nessa situação é quase que uma eternidade, pois nessas situações, bem sabe o leitor, um olhar retornado com duração de pouco mais da metade de um segundo já é evidência de aceitação física. Pelo menos facial, supondo que os olhares estão nos rostos. Ela passou. 

E não é que no dia seguinte ela aparece novamente e algo parecido com a troca de olhares do dia anterior acontece também nesse novo encontro, se é que podemos chamar isso de encontro, situação mais aleatória, só jogando um dado pra cima. Algo já aconteceu, pois esse rosto já não se confunde, nem se confundirá, mais com os outros. Terminamos o ano nessa situação, sem palavra, apenas olhares. 

Mais improvável que isso seria conhecermos pessoas em comum. Mais ainda seria termos uma oportunidade de verificar se tudo que pensamos nas inúmeras trocas de olhares poderá um dia ser posto em prática. Mas um matemático que se valha sabe que uma palavra é improvável, outra é impossível. Improvável pode ser entendida como difícil de ocorrer, porém não se deve desconsiderar essa chance. 

Nesse mar de gente, nessa imensa cidade, talvez essa probabilidade, de termos um dia a chance de nos conhecermos, seja igual a probabilidade de um jogador de uma seleção mediana fazer um gol de bicicleta de fora da área contra uma seleção campeã do mundo, ou seja, bem baixa. 

Só que, como foi dito, a palavra improvável é diferente da palavra impossível.





2 comentários:

  1. Uau! Já passei por um caso de Paixonite do Metrô, mas nada como isso. O mistério. A expectativa. Cara.

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