sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

The point of no return.

Meu rosto se afastando de seu rosto.

Ao abrir os olhos, percebo novamente a beleza daquela bochecha magra no rosto moreno e, fazendo com os olhos o caminho contrário, percorro sua mandíbula esquerda até a ponta do queixo. O sentimento de falta já se instalara em ambos. 

Olhos nos olhos. 

A troca de olhares, mesmo que sem palavra alguma dita pelas bocas, era uma conversa entre os dois. Eu sentia o choque da decisão dela e ela sentia a perda da escolha preterida. Engraçado como ela foca na falta do que deixará para trás. Aliás, a maioria das pessoas é assim. Todos dizem "cada escolha, uma renúncia",  mas ninguém vive com essa frase interiorizada em seu raciocínio. Não se aceita a renúncia, pensa-se nas coisas boas que a escolha preterida poderia lhe proporcionar. Não digo para escolherem sem uma boa análise da situação. A análise das possibilidades, inclusive o que se pode ganhar ou perder em cada uma dessas possibilidades, tem que ser feita. Digo apenas que, uma vez tomada a decisão, não vale mais a pena gastar energia pensando no que poderia acontecer caso tivesse feito outra escolha. Mas sinto, olhando em seus olhos, que ela pensa no que estaria perdendo ao me preterir. 

"Pode me chamar de covarde", disse ela ao se referir à escolha da opção mais confortável e com menos risco. Não me passa isso pela cabeça. Ela fez uma escolha e pronto. O que me incomoda é que ela joga a responsabilidade da escolha na pressão familiar, no longo tempo de namoro com ele e no amor que ele sente por ela. Gostaria de lhe falar que ela escolheu ceder a essas pressões, ela escolheu dizer sim a ele, não foi sua família, amigos, nem ninguém. Tirar de si a responsabilidade de sua própria escolha é a primeira, e talvez única, coisa que não gostei de ver em seu modo de viver. Apesar da vontade de falar, silencio.

Não importa o que o mundo impõe a mim. Sou eu quem escolhe ceder à pressão externa ou romper com esta. Tudo que eu decido é responsabilidade minha, não de terceiros. Até mesmo delegar uma escolha qualquer a outrem é uma escolha minha e de responsabilidade igual e inteiramente minha. Somos livres para fazer todas as escolhas de nossas vidas, só não estamos livres de suas consequências. Queria tanto conversar sobre isso com ela, mas não é o momento.

Agora são meus olhos que piscam de uma maneira mais demorada que o normal e, quando se abrem, estão a mirar o chão, num movimento rotacional de meu corpo, virando de costas para ela, deixando para trás uma das tantas possibilidades que passam pela minha vida. Ficamos durante um segundo nessa posição, ela em pé voltada para mim em frente a sua porta e eu de costas para ela. Talvez esse um segundo seja o tempo necessário para digerirmos as consequências de nossas escolhas. Ergo a cabeça, dou o primeiro passo e sigo minha vida.

P.S.: Fim de uma história cujo começo foi descrito aqui.


3 comentários:

  1. Tenho que concordar com a Srta. Marina!
    Não costumo esperar tamanha profundidade de espírito em "exatóides", para utilizar seu vocabulário! Sentimentos, responsabilidades e a fuga destes e/ou daqueles!
    PARABÉNS!

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    1. Nossa, você não sabe o quanto é legal ler isso. Faz muito bem para o ego e dá motivação para continuar a escrever. Obrigadíssimo!

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