quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Será que o ódio é o oposto do amor?

Bom, começo esse texto dizendo que a ideia central aqui defendida não é minha. Não sei de quem é originalmente, mas gostei muito e, incentivado por uma tal Marina (a mesma que escreveria Marry Potter num jogo de stop, na letra M), escreverei algo sobre o assunto.

Começo com a dificuldade em definir o amor. Então fui ao Michaelis e pasmei com dois dos vários significados. O segundo diz "Grande afeição de uma a outra pessoa de sexo contrário", ou seja, para o Michaelis não há amor homossexual. O quarto significado para o verbete amor é "Relações ilícitas; comércio amoroso". Assim, só se sente amor, caso seja ele proibido por lei ou se o sistema vigente for o capitalista. Brincadeiras a parte e fazendo justiça ao dicionário em questão, os outros significados são aqueles esperados intuitivamente, e destaco o primeiro: "sentimento que impele as pessoas para o que se lhes afigura belo, digno ou grandioso". Logo em seguida fui pesquisar no mesmo dicionário o significado de ódio e encontrei: "Rancor profundo e duradouro que se sente por alguém". Completando essa parte de pesquisa, vi como antônimo de amor o ódio e como antônimo de ódio o amor, no Michaelis. 

Antes de responder à pergunta feita no título, vamos divagar um pouco. No cotidiano, usamos e ouvimos expressões como, por exemplo, "te amo muito" e "o que sinto por você é muito amor". Bom, aqui há uma ressalva quanto a palavra "muito". Amor tem que ser o sentimento maior que se tem por alguém, não poderia haver quantificadores, ou seja, sendo o amor o mais sublime dos sentimentos, não poderia fazer sentido frases como "te amo um pouco", "te amo mais ou menos" ou "te amo muito". Não há pouco ou muito quando o sentimento é amor. Ou ama ou não ama. Paradoxalmente a isso, entendo que por vezes o sentimento é tamanho que temos a vontade de colocar o "muito" para que o interlocutor entenda o que sentimos, pois o "te amo" sem o "muito" é usado de forma demasiada a tal ponto de se perder o valor da expressão (O raciocínio desse parágrafo não é meu, mas chegou aos meus ouvidos de uma forma sensacional, cuja qual não descreverei aqui).

Voltemos ao título. Será mesmo que o contrário de amor é ódio e vice-e-versa? Ambas palavras referem-se a um sentimento forte por alguém (ou alguma coisa), pensando assim, a resposta é não, eles não são opostos, ou seja, eles são, de certa forma, parecidos. Não digo que são duas faces da mesma moeda, pois isso implicaria que ou se tem ambos ou nenhum, o que não é verdade. O que digo é apenas que eles não são opostos. 

Quando se tem o oposto do amor por alguém, nada que esse alguém faça ou sofra despertará sentimento algum em você. Tanto faz o que aconteça com a pessoa em questão. Ela não te irrita nem te anima, não cativa nada em ti, absolutamente nada. Portanto você não a odeia nem a ama, mas sim, sente o oposto do amor e, ao mesmo tempo, o oposto do ódio, ou seja, a indiferença

E isso é o que se defende aqui, isto é, que o oposto do amor é a indiferença, não o ódio. E, mais ainda, o oposto do ódio também é a indiferença e não o amor. Como o significado das palavras não é uma relação algébrica, então, na minha opinião, pode-se ter o que se defende no texto, ou seja, duas palavras com significados diferentes, porém com mesmo antônimo. Assim, o amor e o ódio se parecem no seguinte sentido: um sentimento forte por alguém ou alguma coisa.

Logo, eles andam lado-a-lado.


5 comentários:

  1. Meu coração acelerou ao ler o terceiro parágrafo, daquele jeito que acontece quando alguém diz exatamente o que pensamos. Concordo totalmente com você! Se há amor, há amor; O que, acho, podem existir são tipos diferentes de amor, como o maternal ou o fraterno. Não sei se são o mesmo sentimento, afinal. O amor possui tantas faces, é difícil rotulá-las... Talvez o amor, mesmo, aquele utópico que todos deveríamos sentir uns pelos outros, seja o incondicional.
    Sua conclusão de que amor e ódio andam lado-a-lado é tão lógica que me convenceu, hehe! Tudo faz sentido agora. O ódio pode se tornar tão obsessivo quanto um amor platônico.

    P.S.: Deduzi que a Marina mencionada não sou eu, já que eu nunca, jamais escreveria Marry Potter (ou Parry Hotter, ou Larry Potter) num jogo de stop.

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    1. Que legal que gostou, senhorita Giangiardi. Esse raciocínio de não usar quantificadores para o amor eu ouvi de uma amiga e, se não me engano, ela disse que leu num livro do Paulo Coelho (não é certeza isso, tá). Concordo quando diz que há diferentes formas de amor. Nosso vocabulário é restrito quanto a essas diferenciações, mas ainda assim, o quantificador não deveria ser usado, na minha opinião.

      P.S.: Claro que não é você, já que eu nunca, jamais te citaria num texto do blog.

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  2. Ainda que o raciocínio não seja inédito (como evidencia o próprio Sr. Lucas), é sempre bom tomar contato com leituras e formas diferentes de expressar um conceito. Sempre algo novo é agregado!

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  3. Grande Lucas!

    Rapaz, adivinha de qual filme eu lembrei lendo esse post? Claro, do 'Detachment'. Olha o que esse termo significa em psicologia: http://en.wikipedia.org/wiki/Emotional_detachment.

    Assim como a Marina disse, tbm acho que existem diferentes tipos de amor. Na verdade, acho que existe 'o' amor, e os vários tipos são as faces que formam esse amor incondicional, utópico. Aí, aos poucos, nós vamos construindo esse grande quebra-cabeça. Juntando o amor materno, de irmãos, das amizades e de outras experiências, é que podemos formar, ainda que incompleto, esse quadro do que talvez seja 'o' amor.

    Tá bom que o post nao era essencialmente sobre o amor, mas aí vai uma outra definição (que talvez vc já conheça):

    'Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos, se nao tiver amor, serei como o sino que ressoa ou como o prato que retine. Ainda que eu tenha o dom de profecia e saiba todos os mistérios e todo o conhecimento, e tenha uma fé capaz de mover montanhas, se nao tiver amor, nada serei. Ainda que eu dê aos pobres tudo o que possuo e entregue o meu corpo para ser queimado, se nao tiver amor, nada disso me valerá.
    O amor é paciente, o amor é bondoso. Nao inveja, nao se vangloria, nao se orgulha. Nao maltrata, nao procura seus interesses, nao se ira facilmente, nao guarda rancor. O amor nao se alegra com a injustica, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta'

    Por isso eu acho que o amor é mais que um sentimento; é uma escolha, uma decisão.

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    1. Natan, sua conclusão está perfeitamente coerente com o existencialismo sartriniano, na minha opinião. É isso mesmo com o amor, uma questão de escolha.

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