domingo, 27 de janeiro de 2013

Seres humanos e outros animais.

Confesso que tenho dificuldades em aceitar uma definição que diferencie o ser humano dos outros animais. Será mesmo que essa diferença existe? Será que a busca por uma definição que nos diferencie dos outros animais não seria uma necessidade de nos sentirmos superiores a eles? Não sei se realmente há uma diferença clara ou se estamos a massagear nosso ego. 

"Seres humanos possuem a faculdade de raciocinar". Será que somente os seres humanos têm essa capacidade? Vi alguns vídeos de símios em um curso que fiz que me faz duvidar que essa definição diferencie os seres humanos de todos os demais. 

"Seres humanos podem não agir por instinto, mas por consequência de pensamentos". Será? Vi um documentário em que um cientista afirmava que até o ato de pegar um copo de água e levá-lo à boca, não é um ato conscientemente humano. Milésimos de segundo antes dessa ação, supostamente consciente, seu cérebro disparou impulsos elétricos para isso numa parte inconsciente do mesmo. Estranho, certo?

Em meio a essa dificuldade de minha parte em aceitar ou criar uma definição, caso exista, que diferencie seres humanos dos demais animais, vi uma que me chamou a atenção.

"Para que o homem satisfaça propriamente suas necessidades, ele tem que libertar-se delas, superando-as, ou seja, fazendo com que sejam especificamente humanas. Isso quer dizer que a necessidade humana tem que ser inventada ou criada. O homem, portanto, não é apenas um ser de necessidades, mas sim o ser que inventa ou cria suas próprias necessidades". (Vázquez, 1975, p. 141-2, retirado do livro "Ética e competência" de Terezinha Azerêdo Rios)

Foi a primeira definição que vi em que a diferença é feita nas causas de viver, ou seja, nas necessidades, e não nas consequências. Não é o modo como eu faço as coisas, ou como penso, ou como interajo com a natureza que me diferencia dos outros animais, mas sim as causas, as necessidades, que me fazem pensar e interagir com a natureza, segundo Vázquez. Ainda não sei se isso é uma boa definição, ou seja, se ela deixa o ser humano de uma lado e todos os outros animais de outro, mas me abriu a mente para essa possível diferença, caso exista. 

Não sou paranoico para me diferenciar de outros animais, acho que isso é, no fundo, um exercício para massagear nosso ego. Ainda tendo a não crer que há diferença mais significante entre ser humano e animal do que entre animais de espécies diferentes. Mas estou aberto a aceitar essa diferença caso alguém me mostre que exista.

P.S.1: Esse texto foi quase que um consequência natural de outros dois, são eles Preconceito e evolução., de minha autoria, e 50 Tons de Homem, de Marcelo Moreira.

P.S.2: Recomendo ver a esse documentário interessante sobre os grandes símios (nossos "parentes" mais próximos).


2 comentários:

  1. Mais uma vez, muito bom!
    Como não tenho qualquer argumento favorável à coroação da espécie humana como melhor e/ou superior (equivalente já é difícil de crer), subscrevo o raciocínio do Lucas!

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    1. Obrigado, senhor!

      Também concordo com a opinião do Lucas.

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