sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Preconceito e evolução.

Esse texto é o meu ponto de vista sobre o assunto 'preconceito' que foi brilhantemente esmiuçado por Marcelo Moreira em seu post "50 Tons de Homem". Correndo o risco de uma citação sem direitos autorais reservados ao Marcelo, segue parte de seu raciocínio:

"Estamos viciados em conceituar, embora não alimentemos o hábito de refletir. Donde deriva outra característica naturalmente humana: Criamos conceitos ANTES de possuirmos todas as informações necessárias para garantir sua adequação! Conceitos ANTES dos conceitos! Pré-Conceitos!"

Vou começar pelo vício que temos em conceituar acontecimentos ou pessoas mesmo dispondo de poucas informações para tal. Ao contrário de Marcelo Moreira, não acredito que esse vício seja algo exclusivo do ser humano. Todos os animais, dispondo de sistema nervoso evoluído para isso, possui esse vício. Isso, acredito eu, é uma característica fundamental para a preservação da espécie. Caso as zebras não pré-conceituassem os dentes à mostra de uma leoa com perigo, ou inimiga, talvez as zebras não existissem mais. Portanto essa capacidade de conceituar com poucas informações é necessária à sobrevivência de uma espécie. Assim, pode-se concluir como normal que essa capacidade apresente-se também no homo sapiens. 

O que nos distinguiria dos outros animais é a capacidade de reavaliar o conceito formado com poucas evidências, ou seja, a capacidade de refletir, que foi explicitada por Marcelo Moreira na segunda oração acima citada. Pois bem, a conceituação com poucas informações (o pré-conceito) será formado em sua cabeça quando se deparar com outrem, não importando quem seja. Mas, deveríamos ter consciência de que o conceito formado é um pré-conceito, e portanto, teríamos que estar com a mente aberta a absorver mais informações para modificar (ou não) nosso conceito pré-estabelecido.

Isso é o que acontece com jogadores profissionais de pôquer. Eles classificam todos os outros jogadores que estão à mesa, porém estão abertos a modificar essa classificação à medida que o jogo progride e, portanto, obtêm-se mais informações a respeito dos jogadores.

Mas voltando ao assunto do texto do Marcelo Moreira, em um nível inconsciente ou consciente, quando olhamos para alguém, em um piscar de olhos nosso cérebro já processou dezenas de informações a respeito dessa pessoa, através das roupas, cor da pele, cabelo, adornos, jeito de andar, jeito de falar etc. Porém, cabe-nos contestar, questionar e duvidar da classificação feita pelo nosso cérebro e, para isso, precisamos de mais informações. Informações essas que só será possível ignorando o rótulo dado pelo nosso cérebro. Acredito que o preconceito, no sentido ruim da palavra, se dá quando não contestamos a classificação pré estabelecida pelo nosso cérebro. 

Mesmo sendo essa conceituação, com poucas informações, importante para o ser humano do ponto de vista evolutivo, pois nos deu capacidade de fugir de nossos predadores, hoje temos que ter ciência de que é uma conceituação instintiva e pouco fundamentada. Caso seja propício, devemos lutar para obter mais informações para melhorar nossa classificação a ponto de aproximá-la cada vez mais do real. Há situações em que isso não é propício, por exemplo, se você se deparar com um leão com os dentes à mostra, é melhor ficar com o preconceito de que ele está faminto e correr do que ter a certeza de que ele não está (ou eventualmente de que ele realmente está faminto e seus genes pararem por ali na história da evolução humana).

Para finalizar, gostaria de sugerir um livro fantástico sobre decisões que nosso cérebro toma em frações de segundo. Chama-se "Blink, a decisão num piscar de olhos", de Malcolm Gladwell. 

P.S.: Eu não li todos os textos de Marcelo Moreira em seu blog, mas sugiro a vocês, pois é formidável (clique aqui, haha sempre quis colocar um "clique aqui" no meu blog).


4 comentários:

  1. Saudações, Sr Lucas!
    Aí está uma excelente reflexão sobre o Preconceito. Só me perdi um pouco quando atribui a faculdade de "Conceituar" aos demais animais. Talvez não tenhamos o mesmo conceito do significado de "Conceito"! rs
    Sobre o livro, procurarei introduzi-lo na lista (obviamente, na frente do Harry Potter)

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    1. Fiquei curioso sobre o conceito de conceito e fui ao Miachelis:

      con.cei.to
      sm (lat conceptu) 1 Aquilo que o espírito concebe ou entende; idéia; noção. 2 Expressão sintética. 3 Símbolo, síntese. 4 A mente, o entendimento, o juízo. 5 Reputação. 6 Consideração. 7 Opinião. 8 Dito engenhoso; máxima, sentença. 9 Conteúdo de uma proposição; moralidade de um conto. 10 Parte de uma charada em que se define a palavra inteira. 11 Sociol Termo que designa uma classe de fenômenos observados ou observáveis. 12 Lóg A idéia, enquanto abstrata e geral.

      Entendia por conceito o que está escrito nas partes 1, 2, 6 e 7 do verbete acima.

      Comprei o livro citado na estante virtual e paguei dez reais.

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    2. Ideia, noção, consideração, opinião e, sobretudo, Expressão sintética não entram em contradição com a defesa de que se aplicam aos seres não humanos?

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    3. Do meu ponto de vista, não. Um rato, mesmo que instintivamente, tem a ideia, noção e a opinião (não a conseguirá exprimi-la para nós em linguagem falada, mas sim na sua consequente reação) de que não deve se atrever a aproximar-se de um gato.

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