segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Livre para sempre.

Mathieu pensou: " 'Caso, não caso: não tenho mais nada com isso. É cara ou coroa'.

O ônibus parou numa brusca brecada. Mathieu endireitou-se e olhou angustiado as costas do motorista. Toda a sua liberdade acabava de refluir sobre ele. Pensou: "Não, não é cara ou coroa. O que quer que aconteça, é através de mim que há de acontecer".

Ainda que se deixasse levar, desamparado, desesperado, mesmo que se deixasse transportar como um saco de carvão, teria escolhido a sua perdição. Era livre, livre, inteiramente, com liberdade de ser um animal ou uma máquina, de aceitar, de recusar, de tergiversar, casar, dar o fora, arrastar-se durante anos com aquela cadeia aos pés. Podia fazer o que quisesse, ninguém tinha o direito de aconselhá-lo. Só haveria para ele Bem e Mal se os inventasse. Em torno dele as coisas se haviam agrupado, aguardavam sem um sinal, sem a menor sugestão. Estava só em meio a um silêncio monstruoso, só e livre, sem auxilio nem desculpa, condenado a decidir-se sem apelo possível, condenado à liberdade para sempre".

P.S.: texto extraído do livro "A idade da razão" de Jean Paul Sartre. Leiam!

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