domingo, 25 de novembro de 2012

The point of oblivion

O olhar na boca enquanto ela falava. Que boca linda, mas não do tipo carnuda e com lábios grandes, tampouco miúda ou mirrada, pois dessas eu não gosto. Era uma proporção exata entre tamanho da boca e proeminência dos lábios. Pelo menos 'exata' para o meu gosto. Linda boca, mas não foi isso o que eu mais gostei naquela cena.
O olhar agora na protuberância mentual e fazendo o contorno na lateral esquerda de sua mandíbula. Me fascina todo esse contorno, tanto pelo tom da pele quanto pela forma. Acho lindas as mandíbulas mais retilíneas e com bochechas magras. Meus olhos param em sua bochecha esquerda quando me dou conta que ela está falando, me esforço para prestar atenção, pois seria uma situação constrangedora caso ela fizesse uma pergunta e eu não respondesse.
O olhar sobe e vai apreciar agora seus olhos. Ah, que olhos! Olhos escuros, nem grandes nem pequenos. Olhos lindos, que piscam mais frequentemente agora. Será que ela entendeu o que eu quero? Será que está tensa? Não sei, resolvo aproveitar dessa fragilidade. Ela está a desviar o olhar algumas vezes. Quero mais informações para entender o que se passa em sua cabeça. Lembro que ela ainda está falando, já não consigo mais colocar metade do cérebro para prestar atenção no que ela diz e a outra metade para apreciar a beleza de seu rosto. Mas a verdade é que eu não quero prestar atenção no que ela fala. Então resolvo correr o risco de um silêncio constrangedor, caso alguma pergunta saia de sua boca, ao troco de provocá-la um pouco mais para receber a última informação sobre o que ela está a pensar.
Olho-a nos olhos. Meus olhos não piscam mais. Já não ouço sua voz. Ela parou de desviar o olhar e me encara por igual. Eu estou quase no limite, mas preciso de uma expressão corporal para ter certeza do que fazer.
Cadê a informação final? Não posso correr o risco de cometer um erro. Não agora. Estou tão perto. Mas sem essa informação ainda não posso tomar a atitude. Estamos com os rostos próximos, sua boca está mechendo.
"Vamos! Faça o que eu estou esperando". Esses décimos de segundo finais são angustiantes, mas ainda não é hora.

Eis que ela pisca, mas dessa vez a piscada é mais demorada que o normal e quando ela abre os olhos, eles estão a mirar minha boca.

Era isso que eu precisava ver.



P.S.: The point of no return.

4 comentários:

  1. Quando eu li esse texto pela primeira vez, eram seis da manhã. Eu tinha que fazer mil coisas antes de ir pra aula, e acabei chegando atrasada, porque eu tinha que reler isso de novo e de novo. Cativante, sensível, é tão difícil encontrar um escritor com a sua sutileza e facilidade de expressão. Parabéns, Lulu! Mais um post lindo!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. SEIS DA MANHÃ? Que pique, heim!
      Descobri hoje que existe um contador diário de visitas. Quando o olhei, achei que estava quebrado (hahaha). Mas, acho que foram suas e minhas visitas.
      Eu fiquei com um gostinho de "quero mais" quando reli o texto. Talvez escreva mais sobre o assunto.
      Seus elogios me dão força. Gostei do 'Lulu', hahaha.

      Sua vez?

      Beijo.

      Excluir
  2. Sobre o título: é uma frase de uma música da Pink, Glitter in the air. Meu inglês não é dos melhores, mas parte dessa música ela descreve um momento em que não há mais volta. Aquele momento que precede algo que se quer muito e não há mais como não acontecer.

    ResponderExcluir
  3. Estou aguardando "mais sobre o assunto"!!!A descrição meche com a imaginação!Parabéns!

    ResponderExcluir