segunda-feira, 30 de maio de 2016

O óbito do blogue.

Mais claro que este título, explicitando à leitora e ao leitor o que seguirá neste texto, creio não haver como. E, como em tudo que se narra posteriormente a decisão do fim, é indispensável fazer uma retrospectiva.

Um certo Lucas de anos atrás queria muito aprender a jogar pôquer. Começou, então, uma série de leituras de livros e revistas sobre o tema ao mesmo tempo em que praticava o jogo quase diariamente. Em uma das edições da revista Flop (será que ela ainda existe?), aquele Lucas leu um artigo de um grande jogador brasileiro, não me lembro ao certo qual, mas algum do quilate de André Akkari e Alexandre Gomes, em que o autor explicava que um blogue poderia aumentar as habilidades de um jogador por uma questão psicológica, escrever significa raciocinar sobre o jogo, ou por uma ação coletiva, ou seja, aprender por meio de comentários de outras pessoas sobre as jogadas descritas nos textos. Foi com esta essência pueril que este blogue veio ao mundo. 

Durante certo tempo, os textos raramente saíam dessa temática. Quando me mudei para São Paulo, deixei um pouco de lado o interesse pelo jogo e, conseguintemente, a publicação de textos no Porema. O hiato de publicações findou instigado pela força de alguém que gostara dos textos antigos. Voltei a escrever, mas dessa vez não sobre pôquer, e sim sobre tudo que me interessava em dados momentos e que eram consequências de preocupações existenciais deste que vos escreve. Ocorreu-me agora fazer um paralelo da existência do blogue com a de um grande amor. No décimo de segundo seguinte ao surgimento da ideia da frase anterior, veio a sensação do quão piegas e cliché isso seria. Deem-me um minuto para decidir.
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Farei.

Assim como o início de qualquer grande amor, o blogue surgiu sem muito filtro nem raciocínio, apenas nasceu e eu fui alimentando-o pouco a pouco. Estava feliz e imbuído na tarefa de fazê-lo crescer. Quando dei por mim, acontecera o que Marcelo Camelo e Erasmo Carlos escreveram na música “o casamento de Romeu e Julieta”.


“Assim que o amor entrou no meio, o meio virou amor, o fogo se derreteu, o gelo se incendiou e a brisa que era um tufão, depois que o mar derramou, depois que a casa caiu, o vento da paz soprou”


E esse vento pacífico soprou por bons tempos, acompanhado pela sublimidade da alma e pela satisfação do coração. Sim, pois não tendo eu nenhuma ilusão de achar que os textos que saíam de mim eram bons, contentava-me com a satisfação sentida por aquele que teima em bater. Nunca saberemos se o amor que outrem sente por nós é o maior ou melhor possível. Isso só teria significado em um sistema comparativo, cujo qual não me envergarei em negar. Quando nos livramos de sistemas comparativos, livramo-nos também de poluições mentais, pois eles servem apenas para nos dar a incerteza, a dúvida do amor atual ser um amor verdadeiro. Essa incerteza ou essa dúvida corrói a alma de quem adota comparações para definir seu amor (tanto o que sente quanto o objeto amado), estas pessoas ficam tentadas a se apegar à grama do vizinho, que sempre será mais bela que as delas. Passam a admirar no outro jardim características que não há no seu próprio. Uma margarida dali que não tem aqui, uma tulipa mais alta que essa e, quando percebem, estão com o interesse voltado ao jardim de alguém, esquecendo-se das próprias rosas, copos-de-leite e azaleias. E, assim, pode começar o fim de um amor que era verdadeiro, mas que ficará morto logo. Morto por causa de sistemas comparativos.

Por isso recuso-me a adotar sistemas comparativos para dar importância ao que há ao meu redor. E foi assim que meu carinho e meu amor por esse blogue aumentaram sem parar, mesmo sabendo que não se trata do melhor blogue nem dos melhores textos. Não me importo com isso. E vivi um tempo muito prolífico para uma pessoa que mal sabe escrever. Muito prolífico e muito intenso também.

Como a luz do sol às vezes se esconde atrás da chuva, a claridade é intercalada por uma escuridão e todo atraso tem o tempo como covarde, o amor que o blogue sentia por mim murchou. O Porema se apartou deste que escreve por não ver mais em mim aquele Lucas do início. Assim, ele tomou a decisão de não mais registrar minha escrita, talvez pela mesmice de meus textos, desejando, portanto, outros tipos de textos, talvez por ter tomado conhecimento de outros autores por meio de conversas com outros blogues, ou, quem sabe?, pela fase de pouca atenção que dei a ele. Ou seria um pouco de tudo isso combinado? Não sei. Não saberei. O que posso afirmar é que, com jeito e cuidado, esse nosso amor poderia ser facilmente revigorado e, então, vivermos uma relação tão intensa como fora outrora. Porema teve dois caminhos a trilhar e, mesmo com minha insistência e argumentação, ele decidiu pela ruptura. Como uma relação de amor não depende só de uma das partes envolvidas, cabe a mim resignar-me e aceitar com serenidade a decisão do blogue.



Isso é tudo.


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